Das metodologias ativas às metodologias inventivas

Para além das metodologias ativas, é importante também olhar para as inventivas que valorizam a autoexpressão e autonomia do professor em sala de aula.

Há meses, reflito sobre a maneira como professores têm se apropriado de ferramentas e estratégias contemporâneas de ensino e aprendizagem. No que diz respeito à gamificação, professores têm mergulhado num universo criativo, inventando e remixando narrativas, e transformado suas práticas em sala de aula.

Há um crescente número de exemplos no uso de recursos e interações aplicados em apresentações de Power Points. Se antes elas eram lineares e carregadas de textos, hoje se mesclam a botões interativos que criam um percurso mais rizomático e dependentes das escolhas dos sujeitos. Alguns exemplos de criações como essas podem ser visualizadas nas criações dos meus alunos do curso Level UP: aula gamificada.

Formulários do Google têm ganhado mais vida com temas da Cultura Pop, baseadas em signos conhecidos pelos alunos como Dragon Ball, Harry Potter, Star Wars, dentre outros.

Veja um exemplo de formulário gamificado criado pelo professor Lucas Palmeira.

Como a gamificação favorece a inventividade do professor?

A internet, com seu poder enciclopédico, interativo e conectivo, oportuniza a professores construir novos espaços e estratégias para impactar seus alunos. Desde o evento do Professor Gamificado, não deixo de pensar sobre como a gamificação, aliada às tecnologias digitais, favorecem a inventividade do professor. Para além das chamadas metodologias ativas, adicionar elementos de jogos aos conteúdos pedagógicos permite o professor inventar, remixar e experimentar novas estratégias.

A professora Graziela Soares criou uma aula inovadora sobre Guerra Fria usando os super-heróis da Marvel como contexto disparador. Na mesma linha, o professor Marcelo Teixeira criou uma aula de matemática inspirada no saudoso programa Gugu na Minha Casa.  Enquanto isso, o professor de ciências e biologia planejou um semestre inteiro todo gamificado e baseado em Star Wars.

https://youtu.be/PuWlm-94Coo
Professor Gamificado | Aula 01 | o Poder da Narrativa

Chamou bastante a atenção o entusiasmo dos professores compartilhando suas práticas e o nível de satisfação dos resultados com os alunos. Mas o que ficou mesmo mais nítido mesmo foi como aquilo tangibilizava o poder inventivo enquanto professor transformador da realidade.  Foi a partir desses relatos que resolvi reler os trabalhos da minha amiga Eliane Schlemmer, professora do programa de Pós-Graduação em Educação da UNISINOS. Uma craque em educação digital e gamificação em ambientes híbridos e multimodais. Em um de seus trabalhos, a Schlemmer cita o termo Aprendizagem Inventiva e relaciona isso a práticas de gamificação aplicadas à museus e espaços de convivência.

Essa relação já havia me inspirado na dimensão prática, tanto que cito seus trabalhos no meu mais recente livro Aula Em Jogo

O que é aprendizagem inventiva?

No entanto, não havia me atentado a dimensão mais teórica, especialmente no que diz respeito à Aprendizagem Inventiva. Não entendia exatamente o que significava. O Professor Gamificado me motivou então a conhecer mais os trabalhos da professora Virgínia Kastrup, autora muito citada por Schlemmer.

Para Kastrup, a aprendizagem não se resume a um processo de solução de problemas, mas inclui a invenção de problemas, a experiência de problematização. A autora se apoia nos trabalhos de Maturana e Varela, especialmente da abordagem enativa da cognição.

metodologias ativas
A combinação do que é distinto produz a diversidade e a inventividade

De forma bem geral, para esses autores, a cognição define-se como ação, confundindo-se com o próprio viver. Dito de outro modo, sujeito e mundo não são polos separados, mas são co-engendrados e transformados na e pela atividade cognitiva.

Em resumo, a abordagem enativa é utilizada para identificar limites da psicologia cognitiva e desenvolver abordagens da cognição que destacam o caráter mais criativo, construtivo e inventivo, do que meramente reprodutor da realidade posta.

A gamificação e a aprendizagem inventiva do professor

No que diz respeito a realidade e jornada do professor, percebo exatamente como a gamificação associada a outras estratégias como storytelling, aprendizagem baseada em jogos e outras de ludificação e aula enriquecida com tecnologia, permitem o professor inventar uma nova aula e, por conseguinte, uma nova realidade.

Distingue-se da práxis técnica de reproduzir o que lhe é dito o que deve ser feito, conduzindo o professor para o ato de criar, experimentar, inovar e ressignificar suas próprias práticas pedagógicas.

Esse movimento é possível graças as possibilidades tecnológicas que dispomos, de um rico ecossistema de ferramentas por meio da qual o professor combina diferentes elementos e reproduz mecânicas e dinâmicas mais próximas dos jogos, por assim dizer.

Para fins didáticos, entenda o professor como um Chef de cozinha que prepara um prato em sua cozinha misturando diferentes ingredientes/elementos.

É isso que faz um professor quando usa filtros de instagram como suporte para criar suas narrativas ou então transforma seu conteúdo em uma experiência gamificada, por exemplo, criando um Escape Room ou atividade de caça ao tesouro.

A invenção liberta

O professor está ali misturando e inventando novos sabores para afetar a atenção, a motivação, a memória e outros processos cognitivos, emocionais e sociais de seus estudantes. Nessas minhas últimas leituras entendi também com mais profundidades expressões e frases que ouvi de professores. “Aprender a inserir gamificação nas minhas aulas me libertou das amarras do ensino tradicional. Permitiu me expressar como pessoa e professora ao mesmo tempo”, ouvi justamente isso de uma docente de história. Duas expressões na verdade me chamaram a atenção: “me libertou” e “expressar”.  Sabe-se que todo ser humano tem como desejo e até necessidade a autoexpressão e autonomia. Pois bem, o que gamificação enquanto estratégia permitiu foi justamente a professora se autoexpressar, ter autonomia sobre sua práxis docente. Pode até ter agregado à uma aula ou metodologia mais ativa, mas antes disso tudo foi por natureza inventiva.

Das metodologias ativas às inventivas

Esse foi um passo também importante para entender com mais sobriedade a provocação que a professora Schlemmer fez quando, em uma de suas apresentações, projetou a frase “das metodologias ativas às metodologias inventivas”.

Para deixar bem claro, não se trata de criar um discurso dialético entre atividade e inventividade, mas gerar a necessidade de olhar para além da primeira.

Não se trata de nenhum modo desprestigiar as chamadas metodologias ativas, mas provocar um novo olhar para o que pode está por vir, ou ir além das metodologias ativas enquanto premissas epistemológicas da teoria da atividade.

Não se trata também de produzir uma educação centrada em um único ator no processo de aprendizagem, por exemplo, no aluno. Mas sim de olhar para todos os envolvidos, respeitando seus desejos e necessidades.

E para constar, professor é um ser humano como qualquer outro, tem desejos e necessidades enquanto está dentro de uma sala de aula ou fora dela.

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